
Historia real
Em uma reunião familiar, uma convidada aparece com o filho pequeno, ele tem cinco anos e carrega um tablet. A criança não parece saudável, quase não interage, fica com os olhos vidrados na tela, está hipnotizada, alheia a tudo ao seu redor (no final direi a profissão da mãe).
A mesma cena se repete em diferentes ambientes públicos com algumas variações: a letargia mental virando regra, tomando conta da vida de uma pessoa, desde criança. Agora em tempos de pandemia, a situação provavelmente se agravou.
Quando vejo crianças sendo condicionadas a “interagir” com o tablet/celular e não com o mundo, penso nas consequências do atraso no desenvolvimento delas, e é por desinformação dos pais…tenho uma filha pequena que cresce longe das telas pretas e perto dos livros, posso comparar: é muito perturbadora a diferença.
Evidentemente as pessoas estão se expressando cada vez pior começando pelas crianças.
Muitos pais pagam fortunas para manter os filhos nas melhores escolas e depois patrocinam a desaprendizagem em casa dando livre acesso à tevê, tablet e celular.
Esta é uma longa discussão cujo tema quero apenas arranhar aqui. Adquiri essa visão quando conheci as ideias de educadores corajosos o suficiente para colocar o dedo na ferida, no Brasil, o professor Waldemar Setzer.
Teríamos mais chance de sucesso com a tecnologia no desenvolvimento de crianças, se reconhecêssemos o que não está funcionando.
O aprendizado por telas usando celulares, tablets e computadores, certamente traz alguma forma de inteligência espacial, de melhoria de reflexos, rapidez, capacidade de tomar decisões…não duvido: mas tais habilidades valem alguma coisa sem inteligência verbal quando se trata de crianças pequenas?
Piaget escreveu 60 livros em que muitas vezes valorizou a importância da interação com o concreto, com o desenvolvimento das capacidades sensoriais das crianças que ocorrem pelo concreto: forma, volume, textura, temperatura…
Qual a exigência cognitiva de se usar tablet ou celular? Gatos interagem bem com um tablet.
Exposição à linguagem
Há nítida relação entre desenvolvimento de uma criança e a linguagem a que ela está exposta! A relação entre pensamento e linguagem é tema clássico da literatura educacional. Ver [3].
A evolução nos diz, por exemplo, que um dia o homem começou a falar e essa é a grande diferença entre o ser humano e os animais.
O escritor Mark Bauerlein apresenta argumentos interessantes sobre o prejuízo de trocar a conversação ou a leitura de livros por celulares, tablets e tevê. Traz pesquisas que comparam o tipo de vocabulário utilizado em livros, programas infantis, conversas entre crianças, conversas entre adultos, em jogos on-line, etc.
Segundo Baurlein, o vocabulário de um livro infantil é de 4 a 8 vezes mais rico do que de um desenho típico na tevê, considerando livros e programas para crianças de uma mesma faixa etária. Tanta tevê, Internet e outras telas inibem o pensamento e enfraquecem a compreensão do que está previsto nos currículos (em princípio, aquilo que as pessoas deveriam aprender para ter uma boa formação) e gera dificuldades na escola.
Com vocabulário pobre, é mais difícil acompanhar a escola: uma criança do quinto ano não consegue entender o vocabulário que está nos livros do quinto ano.
Em resumo, esta que poderia ser (e é) uma discussão de muitos livros, a exposição ao conteúdo de tablets e celulares por crianças pequenas é antieducacional !
Comentário final 1:
Este texto foi postado pela primeira vez em fevereiro de 2019, pesquisas na mesma linha, de que tablets e celulares prejudicam o desenvolvimento infantil, continuam a aparecer…incrível como não são divulgadas!
Comentário final 2:
A mãe do início desta história, que leva o filho carregando tablet sem se importar, é diretora de escola ! A cegueira digital começa por quem dirige as instituições de ensino. É trágico.
—-
[1] BAUERLEIN, M. The Dumbest Generation: how the digital age stupefies young american and jeopardizes our future. New York, Penguim: 2009.
[3] < https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao/pensamento-e-linguagem/22883 >
Um comentário em “Telas eletrônicas e o atraso na aquisição da linguagem”